O trem da minha vida

Encontrei na Internet uma comparação genial: a vida é como uma viagem de trem, com estações marcantes e onde os trilhos buscam o nosso destino.

Um trem me transmite certo fascínio já que grande parte da minha infância e juventude vivi no bairro Quilômetro Oito, hoje Couto Fernandes, em Fortaleza, onde a chegada da “composição ferroviária” procedente do Crato era a atração maior das tardes de domingo. O apito da “maria fumaça”, depois substituída pela locomotiva a diesel, ainda ecoa aos meus ouvidos, trazendo-me boas recordações.

O cantor Luiz Vieira disse que “coisa esquisita é trem ao sair pra uma cidade: pra uns leva alegria, pra outros deixa saudade”. E isso me transporta às estações longínquas do “trem da minha vida”. Primeiramente, aquela em que embarquei, no quilômetro zero, sem nada entender, na companhia de meus pais e irmãos. Mais à frente, vieram três paradas obrigatórias, decisivas ao sucesso da viagem: o Ginásio 7 de Setembro, a Escola Preparatória de Fortaleza e a Faculdade de Ciências Econômicas.

Em todas as estações, relembro a subida e descida de pessoas, entre as quais as mulheres paqueradas e/ou amadas que buscaram outros destinos, sendo que duas cumpriram mais tempo de viagem, resistindo aos sacolejos do trem e sendo coniventes com os enjôos de seu acompanhante.

Recordo as alegrias quando do embarque de cada um dos meus filhos e a despedida inesperada de um deles com apenas doze dias de viagem. Duas estações imprevisíveis, uma bem próxima da outra, foram aquelas em que desembarcaram primeiramente o meu pai, e, logo em seguida, minha mãe que, apressada, foi juntar-se a ele numa conexão para a eternidade.

Não esqueço a estação do primeiro emprego, ainda no quilômetro 19, quando lecionei Matemática para uma turma de adultos. O rádio, a TV, a vereança em Fortaleza, as salas de aula, os dez anos de Piauí, a volta à terra natal, a Cohab-Ceará, a Associação de Prefeitos, a assessoria especial no Governo do Ceará, as aulas de democracia na Assembléia Legislativa, o Sindicato-Apeoc e a Governadoria do Rotary, dentre tantas outras, foram, também, paradas inesquecíveis.

E foi inspirado nos verdes campos que se descortinavam pela janela do trem que escrevi Comunique-se Primeiro com Você e Pensando e Repensando Rotary. Coincidentemente, naqueles momentos de criação, Deus me brindou com a chegada dos meus netos Thais e Bruno.

Em todas essas situações, dei boas vindas àqueles que embarcaram para tornar a viagem mais agradável e produtiva, ao tempo em que aceitava – com paciência, resignação e perdão – os que pareciam torcer por um descarrilamento.

Mas, como o trem da minha vida é conduzido por Deus, aqui estou eu, seguro e tranqüilo, chegando ao quilômetro 65, a estação de mais uma juventude marcada pelo desafio de uma pós-graduação. Enfim, “na vida a grande virtude é ser jovem em qualquer idade, pois, com certeza, cada idade tem a sua própria juventude”.

E, para desfrutar desse estado de espírito – se assim queira o meu Maquinista (observem: com M maiúsculo!) – ainda terei muito trilho pela frente…


3 comentários em “O trem da minha vida”

  1. Olha só o que eu achei por aqui! Resolvi pesquisar ” Gamaliel Noronha ” no Google e tudo que eu achei foi um blog cheio de postagens interessantes. Fiquei muito feliz com meu nome citado aqui, juntamente com o do Bruno. Parabéns pelos textos, vovô. Gosto muito do senhor.

  2. Não seria possível escrever a historia de uma vida com mais competência e criatividade, aproveitando a viagem desse trem maravilhoso que naturalmente nos leva da Estação Nascimento a Estação Saudade. Parabéns meu Poeta, meu Governador, meu grande Maquinista. Não sei em qual Estação eu e a Concita subimos nesse Trem, mas com certeza vamos ter muitas estações pela frente e se Deus permitir, embora vez por outra, trocando de vagão, vamos continuar sempre unidos no ideal de servir.

  3. Dileto Governador Gamaliel,

    Deus estava muito inspirado quando criou o poeta, pois ele consegue descrever a realidade com um tom mágico e encantador.
    Gamaliel, você estava cheio de inspiração e grandeza espiritual quando da manufatura desta crônica, onde consegues com bastante propriedade deixar mais leve as intempéries humanas, mais graciosos os momentos de felicidade e maiores os motivos para continuarmos nos trilhos da vida, enquanto o Maquinista permitir e a estação final não chegar. Parabéns!

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