Adeus ao cadete Orestes

Tudo se iniciava com os primeiros raios da luz do dia.

A corneta dava os últimos acordes da alvorada e voltávamos à rotina diária até quando, já pelas tantas horas da madrugada, a fadiga dos exercícios físicos e o cansaço mental das aulas e estudos obrigatórios levavam-nos, novamente, às camas dos alojamentos.

Isto ainda continua se repetindo, diariamente, no interior do velho quartel da Escola Preparatória de Fortaleza, a querida EPF, onde suas paredes amarelas guardam segredos de gerações passadas, desde os tempos idos do Colégio Militar do Ceará. O cronista sentiu por três anos aquela maneira de viver, ao lado de vários companheiros, jovens que se dedicam com ardor à carreira das armas.

A vibração militar, a estrela de oficialato ao longe e as futuras promoções enchem a imaginação dos esperançosos rapazes. Tenho certeza de que o Orestes pensava nisto. Seus modos de bom aluno, simples, calado, demonstravam, mesmo no início da profissão, o disciplinado tenente que guiaria os soldados, o grande capitão que responderia, não muito longe, por uma responsabilidade ainda maior.

Veio então a Academia Militar das Agulhas Negras. Aquele punhado de jovens recebeu a nova labuta com força de titãs e a invencível vontade dos que se dedicam à profissão verdadeiramente sua.

E, assim, chegou o meio do ano. Os cadetes seguiam de ônibus para o Rio de Janeiro, no ensejo de gozarem as primeiras férias na Cidade Maravilhosa. No meio deles, lá em um dos últimos bancos de transporte coletivo, estava o Orestes, pensativo em sua família aqui do distante Ceará. A primeira etapa fora vencida, dizia ele para si mesmo. E, em sua imaginação, surgiam as feições de sua querida mãe, esperando ansiosa que o fim do ano trouxesse de volta ao seu lar o filho estimado. Foi este, talvez, o último pensamento de Orestes. O ônibus lança-se despenhadeiro abaixo numa virada trágica, a lamentável causa que trouxe Orestes de volta à Fortaleza antes da época prevista por sua mãe, por mim e por todos os seus inúmeros colegas de quarteirão, na avenida Dom Manuel.

Sim, o caro companheiro das noites mal dormidas sobre livros e cadernos repousa, agora e para sempre, no solo de sua terra natal. O Cemitério de São João Batista pareceu mais triste ao cair daquela tarde. A namorada do rapaz chorava ao lado de sua tia. A inconformada mãe não tivera forças para vir presenciar o filho descer à sua última morada.

Enquanto isso, o mesmo clarim das manhãs e noites de EPF, indiferente, anunciava um silêncio eterno para Orestes…






2 comentários em “Adeus ao cadete Orestes”

  1. Caro amigo,

    Não sei como separar o texto.Solicito enviar como e-mail para eu remeter para o site da Turma.

    Castelo

  2. Lembro-me bem, Gamaliel. Eu estava no 3° ano da AMAN, gozendo,em Rezende mesmo, o curto período de férias juninas. A notícia nos deixou consternados. Paz eterma para o nosso caro Orestes.
    Affonso Taboza

Deixe um comentário