No chão do Rotary

A nossa organização, movida, principalmente, pela justificável apreensão para com o desenvolvimento e a retenção de seu quadro associativo, desfraldou, de uns tempos para cá, entre nós, rotarianos, uma nova bandeira de luta: Imagem Pública do Rotary.

E, como era de se esperar, mercê do espírito de companheirismo reinante, já nos deparamos, nos meios de comunicação rotária, com inúmeros e bem intencionados arautos desta nova missão. Incluindo-me entre eles, acho oportuno apelar para o Dicionário do Aurélio e cunhar, didaticamente, uma definição para esta, hoje, tão usual expressão no seio de nossos clubes: “Imagem Pública do Rotary é o conceito genérico resultante de todas as experiências, impressões, posições e sentimentos que os rotarianos apresentam em relação a nossa entidade, destinando esta opinião à coletividade”.

Preocupa-me, entretanto, a capacitação da “matéria prima” – os rotarianos – na consecução deste oportuno desafio. Explico as razões de minha inquietação.

Estou no Rotary desde o início da década de setenta. Naquela época, em minhas viagens a trabalho ou a passeio, foram inúmeros as amizades conquistadas por conta do distintivo rotário na lapela. Atualmente, isto não mais acontece. Por conta de um filho que reside em Portugal, já fui, nos últimos cinco anos, igual número de vezes à Europa. Se eu disser que em Londres, Paris, Dublin, Madrid ou Lisboa identifiquei na rua um só rotariano, estou faltando com a verdade. Aqui mesmo em Fortaleza, onde resido, com raras exceções, só encontro, costumeiramente, um rotariano portando o pin nas reuniões de seu clube. Aliás, dentro da ótica da imagem pública, convenhamos, é o lugar menos importante para ostentação daquele valioso instrumento de comunicação rotária.

E o que está acontecendo? Falta consciência rotária, aquele tema ao qual dedicamos (ou deveríamos dedicar!) especial atenção no decorrer do mês de janeiro como forma de sensibilizar, acordar o rotariano para o privilégio de ser um “cidadão do mundo”, abrindo-lhe os olhos para o seu potencial em Rotary e fazendo-o refletir de que pertencemos a uma organização única e capaz de mudar o destino da humanidade. “O Rotary precisa resgatar valores”, como muito bem enfatizou, em boa hora e entusiasticamente, K.R. “Ravi” Ravindran, presidente do Rotary International, no encerramento do 38º Instituto Rotary do Brasil, realizado, em agosto último, no Rio de Janeiro.

Não basta, entretanto, apenas, conscientizar-se dessa prerrogativa de ser rotariano, pois o ser humano vale não pelo que ele sabe, mas, sim, pelo que ele faz com o que sabe. É preciso, pois, que, de posse dessa bagagem, cada um nós passe a conscientizar, doutrinar à comunidade sobre o valor de nossa organização, cumprindo, assim, o importante e intransferível papel de disseminador da imagem pública do Rotary. É valido dizer: conscientizar-se para conscientizar.

Afirmam os municipalistas, com muita propriedade, que ninguem nasce no país ou no estado: todos nascem no município. Traçando um paralelo, a conscientização rotária e, consequentemente, a propagação da imagem pública de nossa entidade têm que ser sedimentadas não nas altas esferas, mais, sim, no âmbito dos clubes, aqui embaixo, estimulando e valorizando a auto-estima dos associados, essa admirável legião de homens e mulheres de boa vontade.

Recorro, novamente, ao presidente Ravindran através de suas palavras aos atuais governadores, quando da Assembleia Internacional em San Diego, nos Estados Unidos: “Vocês têm um ano para construir monumentos que irão durar para sempre. Eles não serão esculpidos em granito ou mármore, e sim na vida e no coração de gerações.”

As nossas lideranças têm, pois, de descer do pódio e trabalhar o imprescindível valor humano daqueles que estão no chão do Rotary.

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