O poder

A saída e a ascensão de governantes e auxiliares fazem-nos refletir sobre dois poderes existentes: o posicional e o pessoal.

O primeiro, como evidencia o próprio nome, nasce das posições individuais galgadas na vida, fruto da competência profissional e/ou política ou do apadrinhamento, este definido de forma genial pela sabedoria popular: “Um jabuti no alto de uma cerca, ou foi enchente ou foi gente”.

O preocupante para a sociedade é quando, na esfera pública, o poder posicional cai nas mãos dos sedentos de autoritarismo e míopes de visão social. Eis aí o chamado poder do birô onde o seu ocupante alimenta ingenuamente a ilusão de ser eterno em seu cargo ou função e, por isso, considera-se proprietário vitalício do gabinete e de todas as suas benesses. Este coitado esquece: os lugares não honram os homens, mas, sim, os homens honram os lugares. E, como o tempo é implacável, mais cedo ou mais tarde, ele vai amargar a triste realidade do ostracismo: sentir-se só e, em muitas ocasiões, sem a própria companhia. E isso tudo seria bem diferente se no início da trajetória tivesse atentado para uma inestimável lição de vida: “Trate bem as pessoas quando estiver subindo; você tornará a encontrá-las quando estiver descendo”.

Com raríssimas exceções, o poder posicional é efêmero, passageiro. Mas, para suprir esta ausência pelos indivíduos de boa vontade, existe o outro poder – o pessoal – duradouro, estruturado em valores intrínsecos da personalidade, responsáveis por uma sensação agradável de liberdade e realização íntima. Alguns exemplos desses valores: o conhecimento, a criatividade (“quando você está criando, você é um homem livre”), a ocupação digna, o relacionamento e a espiritualidade. O poder pessoal é, pois, o status adquirido pelos zelosos com o saber, a consciência e o exercício da cidadania. Ele não é privilégio de poucos e nem possui transitoriedade. Seguindo este raciocínio, ensina-nos com muita propriedade o desembargador federal Hugo de Brito Machado: “Autoridades são apenas alguns e durante algum tempo, enquanto cidadãos somos todos nós e durante toda a vida”.

 

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